Sai a república dos militontos, entra a república dos mauricinhos…
Quando a pesquisa de opinião se torna a própria propaganda
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
“A propaganda representa para a democracia aquilo que o cacetete (ou repressão da polícia política) significa para o estado totalitário”. (Noam Chomsky)
Triste Brasil, poluído por falsos silogismos, simbioses sinistras e dilemas fabricados.
O novo lance da velha manipulação. agora, parece ser o de lançar uma chapa-mauricinho puro sangue. Uma chapa de “filhos de boa cepa”.
Na falta de tudo, surge um balão de ensaio sem conteúdo. Algo como a dupla “Rodrigo Maia- Luciano Huck” – normal em uma legenda na coluna social, preocupante numa cédula eleitoral.
Mídia manipulada com pesquisa encomendada, de fato, só pode gerar combinações teratológicas – verdadeira fábrica de monstros Frankensteins, Hydes e Hulks.
Para se chegar a esse tipo de monstruosidade, porém, é necessário muita ciência. Vamos a ela:
Quando a pesquisa de opinião se torna a própria propaganda
As pesquisas de opinião constituem ferramenta importante de conhecimento e aferição da vontade popular nos governos democráticos.
George Gallup, o pai das pesquisas de opinião, dizia que a ferramenta contribuía decisivamente para um governo mais democrático, eficiente e responsável. Já para pensadores cínicos como Walter Lippman, o público sempre esteve ausente na elaboração de opiniões genuínas e com conseqüências políticas.
O professor Fabián Echegaray, analisando o papel das pesquisas de opinião para a consolidação da democracia, ponderou que além desta vantagen, as pesquisas também podem ser vistas como “contendo propriedades pedagógicas e terapêuticas pelo fato de induzir um processo de auto-conhecimento e um aprendizado informado sobre noções e conceitos populares vitais.”(*1)
O risco, no entanto, é enorme quando as pesquisas distorcem o espírito de representação das instituições democráticas, tornam trivial o papel das eleições e promovem, com isso, lideranças alheias à demanda do eleitorado.
Quando isso ocorre, as pesquisas tornam-se meras caricaturas das preferências cidadãs, alheias à dinâmica da formação da própria opinião. Ignoram a morfologia da opinião, reduzem a influência das legítimas lideranças, manipulam grupos de interesse e viciam a aferição das respostas da população.
Desta forma, uma ferramenta de consolidação democrática, transforma-se em meio de ludibriar cidadãos, transmitindo-lhes um senso falso de influência.
A conseqüência dessa manipulação é tornar a opinião pública mera participante de enquetes políticas domesticadas, cujas opiniões são formatadas em função das opções de respostas pré-estabelecidas por grupos interessados.
Não por outro motivo, quando as pesquisas tornam-se instrumento de propaganda – deixam de constituir expressão da vontade popular para constituírem repressão da vontade popular.
A manipulação das pesquisas pela mídia
É cediço que os meios de comunicação são orientados para lucro. Não por outro motivo, Edward Herman e Noam Chomsky entendem que se deve esperar nesses meios a publicação apenas de notícias que reflitam os desejos, as expectativas e os valores de quem os financia.
Da mesma forma, o sistema gera um ciclo vicioso, condicionando fontes de informação, dirigindo a sensibilidade do meio à determinados grupos de pressão em detrimento de outros, conforme a linha editorial, e alterando normas de veiculação – de forma a praticamente censurar “pontos fora da curva”…
Herman e Chomsky descrevem os meios de comunicação como um sistema de propaganda descentralizado e não conspiratório, mas mesmo assim extremamente poderoso, capaz de criar consensos sobre os assuntos de interesse público estruturando com aparente consentimento democrático e real submissão a interesses de grupos organizados. Isso ocorre sempre às custas da verdadeira sociedade.
Para os autores o sistema de propaganda não é conspiratório porque as pessoas que dele fazem parte não se juntam expressamente com o objetivo de lesar a sociedade, mas, no entanto, é isso mesmo que acabam fazendo, infelizmente. (*2)
Agora, devemos imaginar o que ocorre quando o sistema de pesquisa de opinião se articula com a propaganda orientada pela mídia – em função de determinados grupos de interesse…
O resultado é a forçosa “transição” da república dos militontos para a república dos mauricinhos, aferida de forma manipulada no ambiente político brasileiro. Senão vejamos:
Deu nas rádios e na televisão:
Pesquisa feita pelo Ibope e divulgada pelo jornalista Lauro Jardim, do jornal O Globo, aponta que o ex-presidente Lula lidera em todos os cenários apresentados aos eleitores, com o mínimo de 35% e o máximo de 36% das intenções de voto. Já o deputado federal Jair Bolsonaro aparece em segundo com 15% dos votos. Atrás de Lula e Bolsonaro, aparecem a ex-senadora Marina Silva (Rede), com 8%, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), e o apresentador de televisão Luciano Huck (sem partido), com 5%. O prefeito paulistano João Doria aparece com 4% e Ciro Gomes com 3%. (*3)
Segundo o IBOPE, a pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 22, com 2.002 pessoas em todos os estados, com margem de erros de dois por cento para mais ou para menos.
Com todo o respeito devido à história de implementação do sistema de pesquisas de opinião no Brasil, pelo referido instituto, o que se observa na aferição divulgada é um verdadeiro show de manipulações.
IBOPE, advertida ou inadvertidamente, “fabricou” outra pesquisa torta, que sinaliza um viés de se buscar influir no processo político-eleitoral.
De fato, a pesquisa manipula a mídia, cria falsa polarização, aponta para alternativas improváveis e distorce a expressão da opinião pública.
É muito grave, cômico e trágico.
No caso Lula-Bolsonaro, já tive oportunidade de dizer que essa falsa polarização é um espetáculo de pigmeus dirigido a uma plateia de babões. Só interessa aos dois polos… (*4)
Porém, o espectro vislumbrado na pesquisa é mais fantasmagórico ainda. Transpira claramente outra ideia: polarizar Lula e Bolsonaro, não para elegê-los e, sim, para apresentar, como uma alternativa ao caos representado por essa polarização, novos “postes-mauricinhos”.
Explico:
Mão de gato
Há uma enorme mão de gato que se apropria do cenário político nacional, e sistematicamente procura manipular dados, políticos e escândalos, visando sempre o lucro. Essa enorme mão de gato, porém, de há muito perdeu o pulso. Está enfraquecida pela sucessão de “escolhas erradas”.
Embora tenham lucrado muito, os rentistas manipuladores que instrumentalizam essa mão de gato extrapolaram em avidez; esgotaram fontes de recurso a ponto de quase matar a “galinha dos ovos de ouro” (também chamada de Brasil…).
Preocupados com o esgotamento do modelo institucional, os rentistas manipuladores da mão de gato buscam uma saída que não implique na sua própria saída do cenário brasileiro.
Assim, não pretendem de forma alguma permitir o susrgimento novas lideranças – a menos que previamente cooptadas. O negócio é continuar a destruir reputações e fabricar marionetes.
Tal qual se faz nas propagandas de sabonete, os rentistas manipuladores da mão de gato agiram com sucesso nas eleições paulistas. Elegeram vários prefeitos de boa estampa e nenhum conteúdo. O grande exemplo é a cidade de São Paulo…
Porém, ocorreram problemas. No caso paulistano, os rentistas trocaram uma gestão horrível por outra que segue à deriva… e a população, agora, está pagando caro por isso.
Depois do pesadelo petistas, todos se encontram desgastados pelo circo de vaidades e superegos sem superioridade ou resultados, que vegeta no tucanato.
Assim, os rentistas, ao que tudo indica, resolveram deixar Dória descansando na prateleira por algum tempo, no aguardo quem sabe de um par de “sandálias da humildade” (sem botox), que lhe sirva nos pezinhos de moça calejados pelas viagens brasil afora.
O novo lance parece ser o de lançar uma chapa-mauricinho puro sangue. Será uma chapa de “filhos de boa cepa”. Algo como, quem sabe, uma dupla “Rodrigo Maia- Luciano Huck”.
É, de fato, muito fácil observar a manipulação em curso, direcionando o contexto dos fatos criados para a fórmula proto-plínio, imoral em todos os sentidos.
A pesquisa destila o mal feito.
Nomes fabricados
Nosso cenário político é poluído por falsos silogismos, simbioses sinistras e dilemas fabricados.
De fato, os encomendantes incluiram na pesquisa IBOPE o nome de quem até então sequer havia cogitado se candidatar ou tenha se filiado a algum partido – como Luciano Huck – e excluíram nomes que estão no cenário nacional e possuem filiação e mandato, como, por exemplo, o senador Cristovam Buarque…
Vale dizer, excluem uns, inserem outros… e assim fabricam uma polarização com os mesmos de sempre cogitando uma alternativa aparentemente improvável.
Ainda por cima, atribuem a hipótese que montaram na surdina, à uma “pesquisa de opinião”.
Com o “fato jornalístico” fabricado, a mídia produz a matéria de forma a dar como existente o que o público sequer imaginava querer existir…
Tudo sob as barbas da (in)Justiça Eleitoral.
Alguns sintomas dessa articulação de sistema merecem atenta observação.
Vejam como se dão os movimentos da Rede Globo de Televisão, detentora do passe do mauricinho paulista.
Nos últimos meses, a Globo tem se empenhado em empilhar toneladas de “bad news” sobre as costas do Presidente da República, Michel Temer. Vale dizer, literalmente conspira para derrubar Temer.
Ao mesmo tempo, a emissora, nas últimas semanas, descoberto todo o mal feito protagonizado pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, os irmãos Batista da JBS e o Supremo Tribunal Federal, viu-se obrigada a direcionar seus holofotes para o Presidente da Câmara Federal, Deputado Rodrigo Maia – um mauricinho carioca – cooptando-o explicitamente.
Traduzindo, dispensaram o boquirroto procurador da república para apostar no nome de Rodrigo Maia na presidência da República, inserindo no contexto o apresentador de TV Luciano Huck, talvez para uma vice… ou vice-e-versa.
Essa nova conformação está posta nas simulações efetuadas pela pesquisa do IBOPE. Por conta disso, é mesmo o caso de se saber quem, afinal, encomendou REALMENTE a pesquisa…
Todo esse desvirtuamento seletivo na escolha de nomes a serem pesquisados induz, e por óbvio influencia, na promoção das figuras selecionadas.
A pesquisa, literalmente, inocula quadros no imaginário popular muito antes da campanha eleitoral começar.
Ou seja, NÃO APRENDEMOS NADA!
Sabemos que o eleitor brasileiro é bem mais inteligente que as pesquisas sempre demonstraram. Os furos protagonizados pelos institutos não os deixam mais mentir com a costumeira desfaçatez.
Por outro lado, é patente que os manipuladores do sistema não combinaram nada com os Russos.
No entanto, se os russos não forem o povo mas sim os próprios, a desconfiança se justifica.
Aliás, pode até ser isso mesmo. Afinal, se os russos invadiram o complexo sistema eleitoral norte americano, o que poderiam fazer no sistema eleitoral do Brasil?
Se nosso país não tem qualquer blindagem em relação a russos e, por outro lado, abre portas, janelas e ventanas para chineses colonialistas, bolivarianos corruptos, para o crime organizado sediado nos presídios e até para as ongs britânicas, que nível de defesa pode-se esperar do Estado brasileiro contra a manipulação?
Triste ironia…
Com tanto controle sobre lideranças legítimas. Ante tamanha desmoralização dos partidos políticos, os próceres da judicialização da política quedam-se inertes face à máquina de manipulação, fabricação e destruição de reputações.
Os torquemadas da moralidade contra a política, aliás, são os mesmos que “dormem” nas poltronas dos tribunais eleitorais enquanto os rentistas e monopolizadores da república manipulam a mente dos incautos.
Como já disse a jornalista Valéria Monteiro nas redes sociais, “a injustiça está nas entranhas e nos primórdios do sistema eleitoral”.
Notas:
(*1) Echegaray, Fabián, “O papel das pesquisas de opinião pública na consolidação da democracia: a experiência latino-americana”, in Opin. Publica vol.7 no.1, UNICAMP, Campinas, 2001, pg,1 ( http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-62762001000100004 )
(*2) Kanso, Mustafá Ali, ” Manipulação da opinião pública através da mídia – segundo Chomsky”, Hipercrônicas, 25.11.2013, ( https://hypescience.com/manipulacao-da-opiniao-publica-atraves-da-midia-segundo-chomsky/ )
(*3) G1, Política – https://g1.globo.com/politica/noticia/lula-tem-35-bolsonaro-13-e-marina-8-aponta-pesquisa-ibope-para-eleicao-presidencial-de-2018.ghtml
(*4)Pinheiro Pedro, Antonio Fernando, “Espetáculo de Pigmeus, Platéia de Babões”, in The Eagle View, 5.03.17, ( http://www.theeagleview.com.br/2017/03/espetaculo-de-pigmeus-plateia-de-baboes.html?q=bab%C3%B5es )
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP) e jornalista. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, das Comissões de Política Criminal e de Infraestrutura da OAB/SP. É membro do Conselho da União Brasileira de Advocacia Ambiental, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.