QUANDO O CRIME AMBIENTAL VIRA ESPORTE
O “turismo sustentável” em Maceió e a preservação dos imbecis
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Turista brasileiro – animal em extinção
País tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Este é o Brasil descrito, com simplicidade e exatidão, por uma conhecida letra da MPB. Pudera, com suas mais de mil e uma paisagens paradisíacas, nosso território esbanja, do Oiapoque ao Chui, muito sol, mar, praias, montanhas, cavernas e uma diversidade de fauna e flora de causar atordoamento a olhos desavisados.
Porém, enquanto no mundo inteiro o turismo produz generosas divisas, a exemplo da Costa Rica, que tem no ecoturismo a força de sua economia, na Terra Brasilis o setor caminha de mal a pior.
De fato, o grande problema é a profunda desorganização territorial e a absoluta falta de planejamento. Soma-se a isso, a falta de cidadania do turista brasileiro e o consequente caráter predatório do turismo nacional.
Falta educação, polidez, moral, civismo, patriotismo, generosidade e respeito.
O vídeo postado abaixo é retrato cabal dessa deterioração contínua, sofrida por pretensos cidadãos – primarismo de conduta em proporção inversa à crescente onda de propagandas e campanhas visando pregar o respeito ao meio ambiente.
O vídeo retrata o massacre de ovos e filhotes de tartarugas, por imbecis montados em quadriciclos, transitando livremente na praia do Gunga, em Maceió – Alagoas, no último carnaval de 2016.
Poderiamos elaborar um verdadeiro tratado, tendo por fonte Gilberto Freyre, para explicar o comportamento predatório, desrespeitoso, senhorial, arrogante, de certa “elite” – tanto nordestina como do “sul-maravilha”, quando o assunto é ocupar o SEU espaço de diversão sem notar qualquer outro elemento existente na periferia de seus míopes interesses materiais de ocasião.
No entanto, basta observar o CRIME AMBIENTAL perpetrado às claras e ostensivamente…
Gerações de imbecis
Apesar do cidadão – em especial o mais jovem, ter um grande e facilitado acesso ao saber, nota-se que a inteligencia ou o conhecimento geral da juventude brasileira é inversamente proporcional à essa facilidade de conhecer, de saber.
É fácil constatar esse fenômeno, basta observar o comportamento da juventudde atual, em suas conversas cotidianas ou mesmo em suas diversas redes sociais e outros meios nos quais eles se expressam.
O resultado é desanimador. Uma geração que anda em caros quadriciclos esmagando espécies em extinção sem sequer observá-las à frente de seu caminho… O que se dirá do pensamento em relação ao futuro da sociedade em que vive e sua capacidade de decisão quanto a valores e caminhos.
É certo que parte da imbecilização se deve à mídia. Durante o carnaval percebeu-seo esforço em criar estereótipos de pessoas mais conscientes como seres desengonçados, sem capacidade em se relacionar, sem vida social, fracassados no âmbito social e amoroso. Afinal, qualquer cidadão que tenha tido a ótima idéia de se refugiar do carnaval, para gozar do seu descanso, ler um livro, dormir… se por azar ligou a TV no período, foi massacrado como as tartaruguinhas por uma incessante, contínua, repetitiva e grosseira pauta jornalística focada unicamente na balbúrdia.
Já o ignorante, foi o destaque social, forte, massudão, pleno de “vida social agitada” (como se não ocorresse tremenda “fuga de si”, nessa festança), entre outras qualidades…
Essa dicotomia de valores – que polui a cabeça não de qualquer miserável, mas, sim, de quem tem condições de viajar, alugar ou comprar um quadriciclo, beber socialmente e… passear com a namorada na praia do Gunga, esmagando tartarugas…
O arremedo que chamamos de cultura atual, despreza o saber e a verdade, busca somente prazer e diversão, ou a saciedade dos desejos imediatos.
Isso torna o brasileiro cada vez mais ignorante, pois quando ele exerce somente estas atividades, deixa de treinar o seu raciocínio. Um processo crescente de alienação.
Assim, em vez de termos governos, gestores e cidadãos, empenhados em preservar sítios ecoturísticos – colecionamos imbecis que os destroem.
Isso é totalmente contrário à verdadeira indústria do turismo. O turismo deveria significar a o resgate dos habitantes da miséria e do abandono, a preservação das espécies e a manutenção das paisagens.
Em Maceió, no entanto, o que restou preservado foi a figura do imbecil…,
Veja o vídeo (crédito – TV Alagoas):
Veja também: https://www.youtube.com/watch?v=hHWMD-RWW3U
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.