MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE BIQUÍNI
O maior inimigo do IPCC – Painel Intergovernamental Para Mudanças Climáticas é a soberba
…e a tentação de se tornar “fashion”
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Um coletivo produtor de relatórios-biquíni
O IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU) é um organismo que tem se caracterizado por divulgar relatórios em tom solenemente alarmista, lotados de dados, informações e projeções.
Embora em grande parte as conclusões sejam pertinentes, a soberba indisfarçável dos cientistas responsáveis, o preconceito reativo demonstrado em face às naturais contestações ao teor dos relatórios (e as críticas constituem a razão de ser do método científico) e as premissas absolutamente ideológicas – claramente contidas no bojo da exposição dos trabalhos, revela vulnerabilidades que fragilizam as conclusões.
Em termos chulos, em uma mesa de bar (nas mesas de bar os assuntos costumam ser espancados com maior sinceridade), diria um acadêmico companheiro de copo: “o IPCC veste um biquíni – o que revela é sugestivo, o que esconde é essencial…”.
O IPCC é um organismo científico que analisa e avalia informações científicas, técnicas e sócio-econômicas relevantes para a compreensão das alterações climáticas e condução das políticas a serem implementadas a partir da Conferência dos Países-Parte da Convenção Quadro de Mundanças Climáticas – CQMC. Ele foi criado em 1988 para fornecer uma visão científica clara sobre o estado atual do conhecimento sobre a mudança global do clima e seus potenciais impactos ambientais e sócio-econômicos.
Desde sua fundação o Painel vem ganhando crescente respeitabilidade e o apoio de muitas organizações científicas, em especial as de orientação ideológica submetica ao Reino Unido ou com participação ou com origem britânica, como o International Council for Science, que representa 119 organizações científicas nacionais e 30 organizações internacionais, a Royal Meteorological Society do Reino Unido, a Network of African Science Academies, com a participação de academias nacionais de 13 países africanos, Statement – Relatório Conjunto das academias científicas de 11 países (Brasil, Canadá, China,França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Rússia, Inglaterra e EUA), a National Oceanic and Atmospheric Administration dos Estados Unidos e a European Geosciences Union. Muitas outras importantes sínteses científicas internacionais também aceitaram as conclusões do IPCC, entre elas a Avaliação Ecossistêmica do Milênio da ONU, a série Global Environment Outlook, do PNUMA, e o Vital Forest Graphics do PNUMA`/ FAO / UNFF, escritos e revisados por milhares de especialistas
Às vésperas da Conferência dos Países-Parte, em París, o mais forte documento a ser observado é o documento divulgado em 2014, o 5º Relatório de Avaliação sobre as Mudanças Climáticas Globais, que trata dos impactos, vulnerabilidade e adaptação ecossistêmica.
O Relatório, denso e detalhado, porém, “veste” o fenômeno das mudanças climáticas com um biquíni de vicissitudes: o que revela é sugestivo – de fatos e projeções alarmantes, o que esconde é essencial – uma imperdoável soberba.
O fato é que a Fogueira das Vaidades também gera efeito estufa.
A pretensão de se tornar algo “fashion”, como um modelo de biquini posando em meio a um cenário de destruição, revela lamentável falta de humildade de um organismo que deveria impor muito respeito – em especial ao não reconhecer as limitações da vida terrena ante fatos de magnitude cósmica e ocorrências da natureza.
ORGULHO E PRECONCEITO
O relatório desencadeia um silogismo, a partir de uma premissa presunçosa e contraditória, que redireciona fatos, projeções e medidas para uma conclusão parcial e discriminatória.
A premissa do IPCC, foi desenvolvida na primeira parte do relatório (Grupo 1), que tratava da ciência do clima. Trata-se da conclusão, baseada em demonstrações factuais, que o aquecimento global hoje experimentado é fato sem precedentes na história do planeta, e que as emissões de gases de efeito estufa (GEE), ocasionadas por ação humana, são a causa do fenômeno.
A segunda parte, agora apresentada (Grupo 2), atesta que as alterações do clima já estão provocando impactos significativos no ambiente, como o aumento do nível do mar, acidez dos oceanos, redução da extensão e espessura do gelo nos polos.
Tais alterações, segundo o relatório, se refletem no ambiente humano, causando perdas econômicas de magnitude, redução da produtividade agrícola e danos à infraestrutura, ocasionados por extremos de chuva e seca.
Para o trabalho, os efeitos na biota como um todo são significativos, causando aceleração da extinção e deslocamento geográfico de espécies.
O IPCC alerta que esses impactos irão se agravar e aumentar nas próximas décadas, “caso não tenhamos sucesso em reduzir drasticamente as emissões de GEE”.
A verdade é que essa premissa pretensiosa leva à uma conclusão quixotesca: que o próprio ser humano pode deter, refrear ou mitigar, de forma efetiva, o processo de alterações climáticas que hoje ocorre em larguíssima escala.
Não por outro motivo, sugere o Relatório a adoção de matrizes energéticas que dispensem combustíveis fósseis e comportamentos econômicos mais restritivos. Um bom exemplo é a adoção de padrões de licenciamento e autorização condicionados a uma performance mensurável e condizente com programas de mitigação das mudanças climáticas, da atividade sob análise.
Imodesto na sua essência, o Relatório-Biquíni abriga a vaidade dos componentes do IPCC, e, por conta disso, como em tudo na vida, revela-se o descuido de não ter o Painel da ONU, ainda, priorizado medidas estruturantes de defesa civil, de reestruturação dos padrões de permissão para a agricultura, visando proteger preventivamente as populações e garantir a produção de alimentos em tempos difíceis que virão.
Não que isso não esteja ali. A questão é que no bojo do jactancioso relatório, salta aos olhos o esforço mental, inconfessável, misto de vaidade intelectual e ativismo biocêntrico, de conferir ao Homem um protagonismo de proporções tiranossáuricas, como se pudesse o ser humano traçar uma nova era geológica no planeta.
Tirante isso, o trabalho apresentado em Yokohama é interessantíssimo. Apresenta um cardápio de processos de análise de riscos, critérios de avaliação estratégicos e métodos de resiliência sistêmica face às adversidades climáticas.
Nesse ponto o trabalho é rico e bem nutrido com dados e informações. Na verdade, o grupo científico da ONU praticamente dobrou o número de estudos, análises, artigos e pesquisas, disponibilizados para revisão, em relação ao relatório anterior, visando aumentar o nível de confiança no resultado.
Alguns entusiastas climáticos, como o professor Tasso Azevedo, consideraram o trabalho apresentado “uma peça da mais extensa, completa e profunda revisão do estado da ciência do clima já produzido e deve ser revista e considerada pelos tomadores de decisão nos setores público e privado para que se estabeleçam ações para mitigar as emissões e adaptar as nossas atividades, negócios, infraestrutura e todos aspectos de nossas vidas” (Site Planeta Sustentável).
O relatório-biquíni do IPCC, revela um quadro sombrio e inquietante das mudanças climáticas em nosso planeta. Porém, esconde, sob os paninhos, o toque de arrogância, a vaidade intelectual, acadêmica, que levou todo um grupo de pessoas aparentemente brilhantes a concluir ser todo o processo fruto de uma ação determinante do ser humano.
ANTROPOCENO – O HOMEM E SUAS (IMENSAS) CIRCUNSTÂNCIAS
A prestigiosa União Internacional de Ciências Geológicas – IUGS decidirá, em 2016, se oficialmente irá declarar que o Holoceno acabou e o Antropoceno começou. Muitos Estatígrafos (cientistas que estudam as camadas de rocha), porém, entendem não haver clara evidência de uma nova era geológica protagonizada pelos humanos.
Whitney Autin, estatígrafo do Colégio SUNY de Brockport – Austrália, em entrevista ao Smithsonian Magazine (2013), sugere ser o Antropoceno “mais cultura pop que ciência” . O Antropoceno “fornece atraente jargão, mas, no aspecto geológico, é preciso que os fatos sejam postos a nú, em rochas e ossos, e que se encaixem no código” , diz o estatígrafo.
A campanha para nos posicionarmos como protagonistas de um novo período geológico é explícita, e divide a comunidade científica. O IPCC, expondo sua premissa e conclusão, esconde, no Relatório-Biquíni climático, ter preparado combustível científico para nos endereçar a todos, rumo ao glorioso período Antropoceno…
O curioso dessa questão toda é o Biocentrismo, que contamina o discurso climático mais radical, gerar o mais profundo ANTROPOCENTRISMO.
Ao culpar o ser humano por todos os males e alterações sofridas pelo planeta terra no transcorrer da chamada ” revolução industrial”, concluem os biocentristas que os humanos são realmente capazes de promover alterações geomórficas tanto quanto a natureza.
Não podemos negar o fato da diminuição, em apenas um ano, da temperatura média da terra, por conta de erupção de alguns vulcões, a morte de meio milhão de pessoas por conta de uma tsunami.
Importante constatar a gigantesca interferência eletromagnética e climática no nosso planeta, sofrida por emissões de plasma solar, incluso o risco de alteração de polo magnético e desvio de eixo de rotação.
Como se sabe, o sol despeja na superfície da terra, em um dia, 17000 vezes a quantidade de energia produzida no globo terrestre em um ano.
O QUE SOMOS EM RELAÇÃO AO COSMOS?
A paleoclimatologia (estudo das variações climáticas ao longo da história da Terra), analisa vestígios naturais que podem ajudar a determinar o clima em épocas passadas. Por meio dela constatamos que as observações meteorológicas instrumentais que nos servem de base, datam de 100 ou 200 anos – um período muito curto face às alterações sofridas pelo clima terreno ao longo dos tempos, durante milhares ou até milhões de anos.
A história do clima, numa projeção geológica, é deduzida através de evidências como a composição do gelo, estrutura de árvores petrificadas, demais fósseis e rochas sedimentares. Nos últimos dois bilhões de anos, o clima na Terra tem se comportado de forma mais ou menos cíclica, com períodos frios, chamados períodos glaciais, e períodos quentes, chamados períodos interglaciais. Estas mudanças na temperatura são causadas por diferentes aspectos, tais como perturbações na órbita da Terra em razão da atividade solar, impactos de meteoros, erupções vulcânicas, macro-alterações nas correntes marítimas e irradiações de plasma solar sobre o planeta.
De fato, ao longo de 4,5 bilhões de anos, nosso planeta sofreu inúmeros processos de resfriamento e aquecimento extremos. Está paleoclimatologicamente comprovado, já terem ocorrido períodos de aquecimento global e eras glaciais (“hothouse” e “icehouse”, na linguagem dos paleoclimatologistas). Essa alternancia é um fenômeno corrente na história do planeta.
Segundo a paeloclimatologia, nosso planeta está na situação de geladeira – talvez entrando em transição.
O último episódio de resfriamento ou glaciação foi iniciado no Pleistoceno (1,8 milhão de anos antes da era atual) e teve seu ápice há cerca de 18 000 anos, quando começou o processo de aquecimento global em progresso nos dias de hoje.
Por óbvio que o aquecimento não segue uma curva contínua. Nesses últimos 18 000 anos ocorreram períodos de aquecimento e resfriamento extremos, causando variações bruscas de temperatura em períodos variáveis, que podiam ser de décadas ou menos, de vários graus Celsius. A comprovação destes fatos é fornecida pela análise de testemunhos de sondagens, de centenas de metros, obtidos no Ártico e na Antártida, através da análise da composição isotópica do oxigênio encontrado nas bolhas de ar presas no gelo.
Durante os últimos 500 milhões de anos, a Terra passou por quatro episódios extremamente quentes (“hothouse episodes”), sem gelo e com níveis elevados dos oceanos, e quatro episódios extremamente frios(“icehouse episodes”), como o que vivemos actualmente, com camadas de gelo, glaciares e níveis de água relativamente baixos nos oceanos.
Pensa-se que esta variação de mais longo termo se deva a variações no influxo de radiação recebida por conta do deslocamento do nosso sistema solar através da galáxia (sim, nosso sistema, de certa forma, “orbita” em torno do que pode ser um enorme buraco negro que suga nossa galáxia). Assim, os episódios mais frios podem corresponder a encontros com os braços espirais galacticos mais brilhantes, onde a radiação é mais intensa.
Os episódios frios mais frequentes, podem ocorrer a cada 34 milhões de anos, mais ou menos, provavelmente quando o sistema solar passa através do plano médio da galáxia. Os episódios extremamente frios, como os que ocorreram há 700 e 2300 milhões de anos atrás, (período em que até no equador havia gelo), correspondem a períodos em que havia uma taxa de nascimentos de estrelas na nossa galáxia excepcionalmente alta, implicando um grande número de explosões de estrelas e uma radiação cósmica muito intensa.
O carbono-14 radioativo e outros átomos raros produzidos na atmosfera pelas partículas cósmicas fornecem um registro de como as suas intensidades variaram no passado e explicam a alternância entre períodos frios e quentes durante os últimos 12 000 anos.
Sempre que o Sol era fraco e a radiação cósmica forte, seguiram-se condições frias, como a mais recente, na Pequena Idade do Gelo, de há 300 anos.
Considerando escalas de tempo mais longas, encontra-se uma explicação crível para as variações de maior amplitude do clima da Terra.
Evidências sobre a variabilidade climática encontram-se registradas em rochas e detritos especificamente originados no derretimento de geleiras, encontrados em locais atualmente aquecidos. Análise de sedimentos depositados em geleiras e em oceanos também são evidências fortes.
Essas variações na quantidade de energia solar respondem, portanto, pelas chamadas Eras do Gelo, períodos cíclicos caracterizados por uma queda acentuada na temperatura média do planeta, o que permite a expansão das geleiras até latitudes mais baixas, em intervalos de aproximadamente 40 a 100 mil anos.
Os “Ciclos de Milankovich”, atestam que a composição atmosférica de cada período, alterou-se significativamente, com grandes concentrações de gás carbônico. Movimentos tectônicos, que alteram a distribuição espacial dos continentes e dos oceanos, afetaram a circulação atmosférica e a quantidade de calor absorvido pelo planeta.
A paleoclimatologia, como a paleontologia e a geologia, também atribui alterações climáticas a alterações na órbita do sistema Terra-Lua, impacto de meteoros e erupções vulcânicas, causas determinantes das conhecidas eras do gelo.
NÃO SOMOS ELE, APENAS SUA IMAGEM E SEMELHANÇA…
Assim, a premissa do IPCC, bem como parte de suas conclusões, apresenta cunho reducionista; limita-se, infelizmente, à tragédia humana e ecológica ocasionada pela poluição ocorrida nos últimos 300 anos, como se fosse esta, sozinha, capaz de produzir, no planeta, mudanças com tamanha intensidade, como as que sentimos.
O planeta é maior que as espécies que nele habitam, as quais, aliás – incluso a humana, hoje, representam menos de 1% das que já habitaram o planeta.
Os DINOSSAUROS produziram, em milhões de anos, mais alterações que os humanos em poucos séculos. Foram varridos pela NATUREZA.
Não somos dinossauros, nem temos o mesmo período de vida sobre a terra. Nossa base religiosa nos obriga a reconhecer que, embora sejamos semelhantes a DEUS, não somos ELE.
No discurso biocentrista, portanto, há mais arrogância que ciência. Essa arrogância retida no biquíni do IPCC, desfigura formas e expressões de um trabalho que poderia ser primoroso.
De todo modo, devemos todos nós, humanos, cumprir com várias das determinações contidas no relatório do IPCC.
O processo de alteração adversa do clima é real, há um componente humano nele (ainda que não determinante, mas, sim, importante). Alterações significativas na forma de planejarmos nossa ocupação territorial e forma de produção tornam-se imperativas, não por conta das alterações climáticas mas, sobretudo, por conta da saúde humana e da necessidade de uso mais racional dos recursos ambientais, cada vez mais escassos.
MENSAGENS VÁLIDAS E IMPORTANTES
O trabalho do IPCC, no entanto, não foi em vão, pelo contrário, continua válido no que tange à constatação dos fatos e análise dos riscos. Portanto, nesse aspecto, deve ser estudado e considerado.
As principais mensagens do Relatório do Grupo II do IPCC resumem-se à:
1- Constatação dos IMPACTOS JÁ OBSERVADOS, nas ultimas décadas, em razão das mudanças climáticas. As alterações climáticas adversas já causaram impactos nos sistemas naturais e humanos em todos os continentes e em todos os oceanos. Os impactos nos ecossistemas são mais fortes e abrangentes atualmente, já os impactos nos humanos são mais difíceis de isolar de outros fatores.
2- Devemos GERENCIAR RISCOS E CONSTRUIR RESILIÊNCIA, pois a forma mais efetiva de reduzir os riscos é reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O próprio IPCC reconhece, a final, que ainda que tenhamos sucesso em reduzir drasticamente as emissões, teremos riscos importantes de impacto derivados das emissões históricas acumuladas e, portando, é preciso gerenciar estes riscos e aumentar a resiliência dos ambientes e sociedade.
A pedra de toque do relatório, e nisso todos concordam, é RESILIÊNCIA aos riscos climáticos.
Devemos, sim, no preparar para o pior, em vários aspectos da vida no globo terrestre, que efetivamente está alterando seu regime de clima.
Contudo, devemos ser humildes em relação ao grave fenômeno, que muito tem a ver com o que não compreendemos, não podemos e não imaginamos, ainda, pretender mudar.
O maior inimigo do Painel Climático intergovernamental da ONU, portanto, é sua própria soberba.
A Fogueira das Vaidades também gera efeito estufa…
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado, sócio-diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Consultor ambiental, com consultorias prestadas ao Banco Mundial, IFC, PNUD e UNICRI, Caixa Econômica Federal, Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, DNIT, Governos Estaduais e municípios. É integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Grupo Técnico de Sustentabilidade e Gestão de Resíduos Sólidos da CNC e membro das Comissões de Direito Ambiental do IAB e de Infraestrutura da OAB/SP. Jornalista, é Editor-Chefe da mídia Portal Ambiente Legal, Editor Responsável pela Revista Eletrônica DAZIBAO e editor do Blog The Eagle View.