HITLER MORREU… NO PARAGUAI

U-Boat alemão ressurge aos pedaços na areia da Patagônia em 2015. A história sendo revelada

U-Boat alemão ressurge aos pedaços na areia da Patagônia em 2015. A história sendo revelada

 

 

 

Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro

“Você precisa estar no palco, quando as cortinas se fecharem”

Esse foi o conselho dado por Albert Speer ao seu chefe, Adolf Hitler, reproduzido no clássico filme “A Queda”.

Ao que tudo indica, o conselho não foi seguido e a morte de Hitler, no seu Bunker, durante a batalha de Berlin, é puro mito.

Novas pesquisas sobre um velho mito

Notícias, estudos e novos documentos começam a surgir, mudando versões que pareciam já cristalizadas.

A ausência de provas (com exceção de alguns testemunhos), do suicídio de Hitler e Eva Braun no Bunker de Berlin, começa a ser substituída pelo conjunto de evidências documentais e materiais da presença de Hitler no continente sul americano, após a guerra.

Abel Basti - jornalista argentino

Abel Basti – jornalista argentino

 

Seguem na proa dessa nova versão da história, três obras contendo pesquisas paradigmáticas: uma recente, chamada “Grey Wolf: The Escape Of Adolf” (Lobo Cinzento: A Fuga de Adolf), de Gerrard Williams e Simon Dunstan e outras duas, mais robustas e que parecem ter inspirado a primeira, escritas pelo jornalista Abel Basti, chamadas “Hitler na Argentina” (2003) e “O Exílio de Hitler” (2010).

A tese é razoável, vez que a ausência dos corpos e de qualquer outra evidência material do suicídio de Hitler é fato registrado na história.

A esse respeito, para não repisar o que disse in loco o General Zhukov ou, após a Guerra, o Ministro Churchill, vale ler o testemunho do ex Secretário de Estado Jimmy Byrnes, registrado em seu livro “Frankly Speaking” (como citou em abril de 1948 na obra “The Cross and The Flag”):

“Quando em Potsdam, na Conferência dos Quatro Grandes (EUA, URSS, Inglaterra e França), Stalin deixou sua cadeira, levantou-se e deu um clique em seu copo de bebida de maneira gentil. Eu perguntei a ele, ‘Marechal Stalin, qual é a sua teoria sobre a morte de Hitler?’, e Stalin respondeu: ‘Ele não morreu. Ele fugiu ou para a Espanha ou para a Argentina.’ ”

Assim, hora de ingressarmos em um novo rumo de investigação e… abrirmos nossa mente para um outro roteiro, uma outra história.

Parece a Bavária? Pois é San Bernardino...no Paraguai.

Parece a Bavária? Pois é San Bernardino…no Paraguai.

 

Hitler Morreu no Paraguai

Segundo várias fontes têm apurado, Adolf Hitler morreu em 5 de fevereiro de 1971, e foi secretamente enterrado em uma cripta no “Hotel del Lago”, em San Bernardino, no Paraguai.

A escolha do refúgio e o local da cripta não foram gratuitos. Na verdade encerram uma parábola nazista.

Hitler morreu no país dos sonhos do criador do nacional socialismo alemão, Bernhard Förster, que para lá se mudou no século XIX, com sua mulher Elisabeth Förster-Nietzsche – irmã do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, atendendo a uma “visão” de Richard Wagner, que vislumbrou na américa do sul um futuro para o pan-germanismo.

Alfredo Stroessner - Guardião de Hitler?

Alfredo Stroessner – Guardião de Hitler?

Förster fundou o distrito de Nueva Germânia em 1887, atraindo centenas de famílias alemãs. Os imigrantes alemães também ocuparam o Distrito de San Bernardino, às margens do Lago de Ypacaraí. Ali, juntamente com imigrantes suíços criaram uma estância turística em moldes europeus, com destaque para o Hotel del Lago, no qual Förster cometeu suicídio, tomando estricnina, em 3 de junho de 1889 – mesmo ano do nascimento de Hitler.

Förster estava em crise de depressão e se sentia frustrado por não enxergar resultados em seus esforços de refundação de uma nova Alemanha na forma sonhada. Porém, frustrações de Förster à parte, o fato é que a colônia alemã foi muito importante na reconstrução da economia paraguaia após a guerra da Tríplice Aliança, influenciando até mesmo a formação do exército daquele país.

Passados 66 anos da morte de Förster, coube ao mais novo general de exército de toda a América Latina, o descendente de alemão Alfredo Stroessner, um ano após assumir o poder por meio de um golpe de estado, acolher Kurt Bruno Kirchner – na verdade Adolf Hitler, mantendo-o sob sua proteção de 1955 até sua morte, em 1975.

Stroessner foi ditador no Paraguai até 1989, quando foi deposto. Permaneceu no poder por 35 anos, só perdendo o posto de mais longevo dirigente americano para outro ditador – Fidel Castro. Outra coincidência temporal: Stroessner, um simpatizante do nazismo, foi deposto cem anos depois do suicídio de Förster…

Juan Peron e General Ibanez, do Chile

Juan Peron e General Ibanez, do Chile

Exílio se inicia na Argentina

Antes de se estabelecer no Paraguai, Adolf Hitler / Kurt Bruno Kirchner morou na Argentina, sob a proteção de Juan Domingo Perón. O esquema de proteção abrangia rotas de fuga para o Chile, cujo exército – totalmente formatado em bases germânicas, mantinha em suas fileiras vários oficiais alinhados.

Na Argentina, Hitler e Eva Braun moraram em uma ampla casa à beira de um lago, próximo à cidade de Bariloche – outra cidade sul-americana fundada e colonizada por alemães.

Conforme o jornalista Basti, a Fazenda Incalco, em Villa la Angostura, às margens do Lago Nahuel Huapi, foi o refúgio escolhido pelos nazistas argentinos para abrigar o casal.

Localizado em meio a uma floresta de pinheiros, o complexo só poderia ser alcançado por barco ou hidroavião, e pertencia ao empresário argentino Jorge Antonio, um dos amigos mais confiáveis do presidente Juan Domingo Perón.

Villa La Angostura - Argentina

Villa La Angostura – Argentina

 

Basti também relata que Hitler teria também vivido no “Hacienda San Ramon”, a seis quilômetros leste de Bariloche, que pertencia na época ao principado de Schaumberg-Lippe.

Sem o famoso bigode (que fez aparecer uma antiga cicatriz de guerra, acima dos lábios), e com a cabeça raspada a máquina, seu semblante não chamava atenção e guardava pouca semelhança com a imagem oficial.

Tanto na Argentina, quanto no Paraguai, o homem responsável direto pela segunda guerra mundial e pela morte de quase cinquenta milhões de vida, manteve-se seguro entre seguidores, antigos dignatários nazistas e simpatizantes de sua causa, fato que se explica não apenas pelo aparato nativo como, também, pelo afluxo, pós guerra, de dezenas de milhares de nazistas para a América do Sul.

Hitler só foi extraído da Argentina, pelos nazistas, em função do clima de instabilidade criado com a queda do ditador Perón em 1955. Caso contrário teria permanecido ali até o fim da vida.

U-Boat da Classe Seehund (submarino de bolso) encontrado na Patagônia - Argentina

U-Boat da Classe Seehund (submarino de bolso) encontrado na Patagônia – Argentina

 

Fuga cinematográfica

A fuga de Hitler e sua mulher, Eva Braun, do Bunker até a América, é verdadeiro roteiro de cinema. Os dois foram resgatados do Bunker em Berlin pela mega-aviadora Hanna Reitsch, em companhia do General Ritter von Greim.

Hanna Reitsch

Hanna Reitsch

É preciso entender quem foi Hanna Reitsch e sua importância para a aviação mundial na primeira e segunda metade do século XX… Assunto para outra ocasião.

Hanna pousou seu pequeno avião após literalmente sobrevoar os Russos, que já ocupavam grande parte da cidade, retomando o voo de fuga em 29 de abril, de Berlim a Hörsching – Áustria. De lá, O casal seguiu em outro avião, pilotado por Werner Baumbach, até Barcelona, na Espanha – país dirigido pelo simpatizante nazista General Franco. Saíram da Espanha por Vigo, de submarino, em direção à Patagônia – Argentina, fazendo escala nas Ilhas Canárias, entre julho e agosto de 1945.

O Submarino seguia escoltado por outros U-Boat, com mantimentos, reservas de abastecimento e armas. Esse comboio já havia sido precedido por outros, talvez com uso das mesmas embarcações, levando pessoas e mantimentos.

Essa movimentação submarina não passou despercebida. Ao passar pela costa brasileira, um desses comboios de fuga deparou-se com o Cruzador Bahia, da Marinha do Brasil, e tratou de torpedeá-lo em junho de 1945, provocando centenas de mortos.

Ao que tudo indica, terminada a missão de transporte, parte desse comboio foi deliberadamente posta a pique, e outra parte tratou de, nos meses seguintes, se render à Marinha Argentina, no Rio da Prata, com tripulação visivelmente reduzida…

Recentemente, alguns desses submarinos afundados na Patagônia começaram a emergir, em meio à areia, dado ao comportamento das marés e dos bancos de areia.

U-977 rende-se às autoridades da Argentina, no final de 1945, após quatro meses ininterruptos de navegação

U-977 rende-se às autoridades da Argentina, no final de 1945, após quatro meses ininterruptos
de navegação

Não estavam sozinhos.

Dezenas de milhares de nazistas utilizaram as chamadas “ratlines” – rotas de fuga organizadas da Europa em direção à América do Sul, América do Norte e Oriente Médio.

Duas grandes organizações cuidavam dessa atividade: a Organização de Refugiados do Vaticano – Pontificia Commissione di Assistenza (PCA), e a Organização ODESSA – abreviação de Organisation der ehemaligen SS-Angehörigen (ou Organização dos Antigos Deputados SS). A primeira, com finalidade humanitária, foi aparelhada por padres germanicos para finalidades óbvias. A segunda, foi organizada especificamente para dar suporte aos dignatários nazistas e criminosos de guerra.

U-530 se rende aos Argentinos, em julho de 1945

U-530 se rende aos Argentinos, em julho de 1945

A missão do Vaticano – ironicamente organizada no início da guerra para justamente dar guarida aos que fugiam do nazismo, foi aparelhada pelo Bispo Alois Hudal, reitor do Pontifício Instituto Roman Teutoburg Santa Maria dell’Anima – um seminário para sacerdotes da Alemanha e da Áustria. Hudal, segundo as pesquisas, fazendo uso dos passaportes da Cruz Vermelha, deu fuga a Erich Priebke, Klaus Barbie, Edward Roschmann, Walter Rauf, Alois Brunner, Franz Stangl, Gustav Wagner, Adolf Eichmann e Josef Mengele.

Martin Bormann, o Secretário Particular de Hitler, teria sido também ajudado por Hudal. Bormann seria a principal ligação do esquema de proteção do Führer com os bancos internacionais que operavam as contas milionárias da organização.

A Polícia Federal Argentina, ao que tudo indica, sempre teve um arquivo volumoso sobre Bormann, cujo corpo, após sua morte, foi repatriado para a Alemanha em 1970 e enterrado alguns metros do lugar onde testemunhas disseram que ele havia morrido, por suicídio, no ano de 1945 – de tal modo que o mito de que “Bormann não era homem de se esconder” permaneceu “vivo” e atestado até por testes de DNA em 1998. Hudal escreveu em seu diário: “A guerra dos Aliados contra a Alemanha não foi uma cruzada, mas uma rivalidade entre complexos econômicos que lutaram pela vitória. Por estas razões, a partir de 1945 senti a necessidade de dedicar a minha obra de caridade toda, principalmente a ex-nacional-socialistas e fascistas, e especialmente os chamados “criminosos de guerra”.

A outra organização, claramente nazista, dedicada aos membros da antiga SS, supostamente fundada por Heinrich Himmler, Odessa era a ponta do iceberg composto por várias organizações menores, formadas com o mesmo intuito, no final da guerra.

Skorzeny (atrás de Evita, à esquerda na foto). O que ele exatamente fazia ali?

Skorzeny (atrás de Evita, à esquerda na foto). O que ele exatamente fazia ali?

 

Skorzeny é uma das chaves

Durante o governo de Perón, a Argentina recebeu milhares de oficiais nazistas. Pelo menos 5.000 nazistas porvieram do sistema mantido pela ODESSA. Sabe-se que o governo de Perón vendeu um total de 10.000 passaportes em branco para a organização, dirigida, ao que tudo indica, entre outros, por Otto Skorzeny – conhecido nos anos da guerra (e depois dela) como “o homem mais perigoso da Europa”.

Skorzeny foi o responsável, dentre várias missões impressionantes, pelo resgate de Mussolini, pelo sequestro do herdeiro do Regente da Hungria, pela infiltração de alemães disfarçados com uniforme americano e proficientes em inglês atrás das linhas aliadas na contra-ofensiva das Ardenas, em 44, pela tentativa de matar o Gen. Eisenhower e pela tentativa de sabotar a Conferência de Teerã e matar os líderes dos países aliados. Preso após a guerra, fugiu da prisão na alemanha para reaparecer na Espanha, de onde passou a chefiar uma empresa de “exportações”.

 

Skorzeny em fevereiro de 1945

Skorzeny em fevereiro de 1945

Skorzeny permaneceu um longo período na Argentina, ocasião em que acompanhou a primeira dama argentina, Evita Perón sendo então identificado como seu guarda-costas (estaria guardando a primeira dama ou, supervisionando a segurança de Hitler?).

Claro está que Skorzeny era a chave para a consolidação do governo de Perón em troca do apoio que este dava à ODESSA.

Muito ainda que descobrir

Em seu livro The Real Odessa (2002), o pesquisador argentino Uki Goñi acessou arquivos oficiais do governo da Argentina, apurando que diplomatas argentinos e oficiais da inteligência tinham, sob as ordens do próprio Perón, incentivado criminosos nazistas e fascistas a morarem na Argentina.

De acordo com Goñi, o governo argentino não apenas colaborou com as rotas de fuga como instituiu uma rota própria, usando Escandinavia, Suiça e Bélgica.

Adolf Hitler: Mito insepulto em Berlin - Cadáver sepultado no Paraguai

Adolf Hitler: Mito insepulto em Berlin – Cadáver sepultado no Paraguai

 

O tráfico de argentino de criminosos de guerra institucionalizou-se, de acordo com Goñi, quando o novo mandato de Perón começou em fevereiro de 1946.

O então antropólogo Santiago Peralta foi nomeado Ministro da Imigração e um ex-assessor de Von Ribbentrop (o Ministro das Relações Exteriores de Hitler), Ludwig Freude, passou a integrar o staff de Peralta.

Freude organizou com a chancela governamental uma “comissão de resgate” composta por agentes do serviço secreto e “conselheiros” de imigração, muitos deles criminosos de guerra, com passaporte, cidadania argentina e empregos legalmente formalizados.

Logicamente, interesses econômicos temperaram o alinhamento, que não poderia processar-se se o mundo, nesse período, já não estivesse absolutamente polarizado pela Guerra Fria.

Assim, no momento em que Foster Dulles, o Secretário de Defesa Norte Americano, informava que “A neutralidade é uma imoralidade”, Hitler tornou-se um assunto “neutro”, cuja imoralidade se encontrava no passado – não mais comprometia o cenário de embate entre comunistas e capitalistas. Pelo contrário, nazistas tornavam-se algo a ser “tolerado” no ocidente, como força secundária no combate à infiltração comunista no bloco dos países alinhados no terceiro mundo.

Hitler permaneceu, assim, oficialmente sepultado em vida. Isolado e deliberadamente esquecido.

Ou seja, há toda uma história complexa – talvez mesmo vergonhosa, para ser desvendada, admitida e, talvez, novamente esquecida.
afpp-55 (3) - CopiaAntonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e das Comissões de Política Criminal, Infraestrutura e Sustentabilidade da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SP. É Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.

 

 

 

 

 


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