ESPETÁCULO DE PIGMEUS, PLATÉIA DE BABÕES
O cenário político brasileiro é poluído por falsos silogismos, simbioses sinistras e dilemas fabricados.
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Lula e Bolsonaro são dois lados da mesma moeda. Alimentam-se mutuamente e polarizam os processos de escolha. Sobrevivem fabricando falsos dilemas.
Indigência moral e intolerância cultural são manifestações simbióticas.
Ambos os tiranetes recorrem a discursos permeados de pretextos justos, visando manter suas próprias tiranias. Por conta disso, gente sensata pode, num ou noutro momento compreender ou mesmo se identificar com parte do que dizem. Mas não ficam para ver o todo. O todo…é o nada.
Ambos despontam nas pesquisas de opinião. Mas, pesquisas de opinião, neste mundo de “não verdades”, “fatos alternativos” e “fake news”, são como sinais de trânsito trocados. Objetivam confundir os incautos.
É nessa perspectiva que Marina Silva – esse poço obscuro de omissões repleto de senões, ganha seu espaço no cenário. É um mero elemento decorativo – serve de estímulo para apostas em azarões…
O teatrinho das dicotomias simbióticas envolve comunistas enlameados, fascistas no armário e ecochatos a serviço de interesses internacionais. Um circo de pulgas com sucesso garantido nos becos escuros dos guetos ideológicos.
O elenco farsesco inclui minorias barulhentas, indivíduos marginais, políticos corruptos, mídia comprada, intolerantes a toda prova e intelligentsia idiota.
Seria folclórico, porém, se isso não representasse risco institucional. Mas representa, e o núcleo do risco não está nos partidários radicais de cada ícone e, sim, em quem financia, os bancos. Bancos costumam financiar essa fauna, como aliás já o fizeram, no passado – com isso manipulam resultados ao sabor das especulações de ocasião.
O patrocínio financeiro tem fundamento. Piratas rentistas ganham com a lavagem do dinheiro sujo do sangue, da corrupção e da miséria produzida pelos populismos de esquerda e de direita. Também ganham com os empréstimos-jumbo, necessários para a “reconstrução nacional” após a passagem desses flagelos pelos governos. Como dizia Millôr Fernandes, os bancos não perdem por esperar – aliás ganham, e com juros…
Financiado pelos parasitas do dinheiro alheio, o teatro das polarizações fabricadas fragiliza a unidade nacional e polui o cenário político com silogismos de premissas falsas, simbioses sinistras e dilemas fabricados.
Os dois lados da mesma moeda tóxica mobilizam, mas permanecem espúrios. Embalam as pesquisas, mas não representam o Brasil.
O Brasil é maior, mais complexo, interessante e diverso. Não cabe nesse espetáculo de pigmeus, montado para uma plateia de babões.
O jogo do falso dilema, portanto, é como um nó górdio. Não deve ser desembaraçado e, sim, cortado ao meio pela espada da soberania.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP) e jornalista. Sócio diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados. Membro do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, das Comissões de Política Criminal e de Infraestrutura da OAB/SP. É membro do Conselho da União Brasileira de Advocacia Ambiental, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa – API, Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.