É PRECISO COMBATER AS RAÍZES DA BARBÁRIE
Na luta pela democracia, não há espaço para tolerar intolerantes
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
A barbárie teocrática
A barbárie protagonizada pelos radicais islâmicos não é isolada. É face desprezível de doutrinas que elegeram o preconceito, a intolerância, o sexismo e o martírio como forma de redenção.
O totalitarismo teocrático atormenta o oriente há milênios. Agride também o ocidente de tempos em tempos.
No oriente, doutrinas teocráticas islâmicas massacram populações em nome da “libertação”, da “salvação” e da “purificação”. No ocidente, ortodoxos muçulmanos exploram o veio da “restauração da fé”, contra um mundo excludente, lascivo e “decadente”.
Os bárbaros se apoiam na pobreza moral e no analfabetismo funcional, pragas que corroem multidões de miseráveis tolhidos por economias absolutamente sectárias.
A Europa até agora havia tolerado a barbárie terrorista, por conta da visão obtusa de partidos e governos esquerdistas.
De fato, a esquerda européia sempre estimulou o rancor social e professou um discurso “vitimizador dos excluídos” contra o “aparato repressor” dos regimes democráticos.
Esse “rancor social”, justamente, estimulou a fuga de jovens oriundos de famílias de refugiados e imigrantes muçulmanos para as fileiras das sanguinárias facções radicais no oriente médio.
Essa tolerância ao radicalismo islâmico contou, também, com a condescendência pusilânime de governos e partidos “politicamente corretos” ocidentais, pressionados a reagir contra políticas sectárias e xenófobas protagonizadas pela nova direita da Europa e América.
É o que posso denominar “Síndrome de Chamberlain” – uma “homenagem” ao primeiro ministro inglês que aplicou a “política externa de apaziguamento”, e, assim, assinou o Acordo de Munique, em 1938, pelo qual concedia a Região dos Sudetos da Checoslováquia à Alemanha. Ou seja, a título de dialogar de forma tolerante com intolerantes, concedeu espaço a quem pretendia, de antemão, dominar o espaço inteiro… O resultado desse tipo de atitude, portanto, é historicamente conhecido. A forma de resolver a questão – aniquilando o inimigo – também é…
Decadência e totalitarismos
O pano de fundo do proselitismo produzido pelo jihadismo terrorista islâmico é o processo de “decadência moral, institucional e política”, sofrido pelo “ocidente”, que eliminará a “hegemonia de nossos padrões civilizatórios” em prol de um “novo barbarismo”.
No embalo dessa tese surrada os muçulmanos não andam sozinhos. A noção continuada de “decadência do ocidente” está no princípio de todo pensamento totalitário, teocrático ou não.
Toda doutrina totalitária condena o “comportamento libertino e decadente” do ocidente, justamente por ser o ocidente plural, e a pluralidade constituir o cerne do regime democrático.
O totalitarismo não concebe o plural. Não admite a convivência dos diferentes. Nutre fobia à diferença.
Essa fobia à diferença atrai hordas de indivíduos que se vitimizam por justamente se sentirem “excluídos” pela diferença. Atraí hipossuficientes de toda ordem: inconformados recalcitrantes, canalhas ideológicos, manipuladores de massas ignorantes, miseráveis em busca de alguma luz e analfabetos funcionais.
A fobia totalitária hipnotiza a todos com o discurso da “restauração”, da equalização dos desiguais pela força, da uniformização estética e padronização forçada de condutas.
A barbárie muçulmana ortodoxa ganha musculatura na horda dos despossuídos porque prega o mergulho radical, sem exceção, de todos, numa treva de ausências: ausência de inteligência, de humor, de cores, de educação, de música, de arte, de livros, de meios de comunicação, de inteligência, de raciocínio, de crítica, de respeito ao próximo, de domínio sobre o corpo, de amor e de sexo.
Condena todos à equalização brutal, baseada na ignorância.
O que assombra, no entanto, e toma dimensões apocalípticas, é justamente o fato de hoje não haver mais “ausências” possíveis entre ocidente e oriente.
A humanidade assume padrões sócio-econômicos cada vez mais globalizados, alimentados pela carga dinâmica e acachapante da livre-informação digital.
Isso nos deixa a todos, radicais ou não, “cara a cara” com nossos avanços e atrasos, com nossas diferenças, riquezas e misérias.
Ante essa profusão de informações, a proposta radical muçulmana – do mergulho radical de todos na treva de ausências – só poderia ser concebida e executada à custa de um sistemático e brutal massacre de vidas humanas.
É isso o que agora ocorre.
A contradição, no entanto, é insuperável. O contraste entre oriente e ocidente tende a desaparecer, na medida em que o modelo ocidental é adotado na maior parte do oriente.
Não por outro motivo o oriente sedia os maiores embates entre radicais muçulmanos e governos, nos países que se modernizam e adotam padrões ocidentais (ex.: China, Índia, Paquistão, Malásia, Emirados…).
Essa expansão de padrões ocidentais no oriente e África é prova que a “decadência civilizatória ocidental”, se existe, ainda tem o condão de expandir idéias, experiências e conhecimento. Produzir primaveras e revolucionar costumes.
O historicismo decadente
O discurso historicista – de que estamos “decaindo” – é uma bobagem histórica (com efeitos funestos), denunciada por Karl Popper no século passado (e registrada em sua obra “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”).
A tese historicista da “decadência civilizatória” é doutrina perene: a Grécia Antiga se desenvolveu “decaindo”, na versão dos historicistas gregos; Roma “decaiu” por 1600 anos; o chamado Estado Moderno europeu-ocidental está “decaindo” há trezentos anos e os EUA decaem há cem.
No entanto, os valores civilizatórios clássicos, que sustentaram todos esses elementos “decadentes” da história do ocidente, ressurgem sempre revigorados.
Marxistas quebraram a cara com o discurso historicista; nazistas também.
A ortodoxia muçulmana – sunita e xiita, é igualmente perene e nada, nada é mais historicista que a visão radical islamita da estrutura civilizatória ocidental – cuja contribuição árabe (árabe, não islâmica) foi determinante.
Teocratas historicistas muçulmanos, judeus, católicos e protestantes, sempre fizeram uso da literalidade dos livros sagrados para queimar na fogueira, ou no mármore do inferno, aqueles que se recusaram a ver, na ortodoxia religiosa, a salvação da humanidade.
Porém, passada a onda da barbárie religiosa, aprendemos que os livros sagrados permanecem, enquanto os radicais perecem.
Religião é pretexto para a violência
O Alcorão, assim como a Bíblia e a Torá, nunca foram escritos para serem tomados ao pé da letra e, sim, apreendidos e interpretados diariamente, a cada tempo, no seu tempo.
No quadro atual da barbárie muçulmana, radicais de ocasião “restauraram” a literalidade do Alcorão. “Reescreveram” o livro sagrado e dele extraíram “ensinamentos” por meio de uma leitura maniqueísta, rasteira e medíocre (para não dizer estúpida).
A restauração da punição corporal por blasfêmia e apostasia é iniciativa imbecil de clérigos ortodoxos – cegos ignorantes que se recusam a fazer uso do raciocínio inteligente (com a qual fomos todos premiados por dádiva), para pensar além da letra…
Acenam os atuais radicais do mundo islâmico com o ensinamento do profeta:
“De fato, o castigo, para aqueles que ordenam guerra contra Alá (Deus) e contra o seu mensageiro e semeiam a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e o pé opostos, ou banidos. Que é para eles uma desonra nesse mundo; e para eles na Outra Vida, um grande castigo.” Alcorão (5:33)
TODOS os livros sagrados citam literalmente passagens de ira, como a acima transcrita. Porém, sua leitura contemporânea não contempla a blasfêmia como punível com o martírio e a morte.
O próprio sentido da injúria ao divino se dilui no mundo atual – governado por organizações laicas – onde ensinamentos religiosos remetem à conduta subjetiva e à consciência das pessoas, jamais para formas arcaicas de controle ideológico objetivo, político e social.
Maomé não reagiria hoje, como aliás nunca reagiu, com ira contra os que o desdenhavam. Não é pela ira, pelo terror, que se conquista corações e mentes do rebanho de Deus.
O terror é apanágio dos covardes, que temem a vitória da razão. E a verdadeira fé está, justamente, na razão.
Essa regressão repressiva à inteligência humana, em forma de doutrina, visa alinhar religião a um projeto político terrorista de poder. Não busca pureza na alma dos miseráveis e, sim, iludi-los com a pregação de ódio e rancor…
Se assim é, o que ocorre entre os muçulmanos de bem, que não os faz lutarem pela vitória da razão?
De há muito os mais esclarecidos no mundo muçulmano (e no ocidente), denunciam esta manipulação cínica e hipócrita.
A crítica a esses desvios, no entanto, não ocorre na intensidade e nem na extensão desejada porque Estados dominados pela religião impedem o livre debate, da mesma forma que idiotas politicamente corretos evitam a crítica por verem nisso algum tipo de preconceito.
Essa simbiose entre teocracias e pusilanimidade politicamente correta resultou no cenário atual, próximo aos tempos das cruzadas.
Nas regiões ocupadas por radicais islâmicos, hoje, cristãos são crucificados, degolados ou fuzilados (exemplo de “limpeza religiosa”). Essa barbárie se estende a islamitas que não comungam com a mesma doutrina.
Mulheres e crianças são vítimas de toda espécie de barbárie consentida – da pedofilia mal disfarçada em preceito religioso ao feminicídio serial; do estupro, tortura e sevícias à extirpação ordenada do clitóris e lábios genitais em adolescentes (infibulação).
Efeito da pusilanimidade politicamente correta…
No Afeganistão, Paquistão, Indonésia, Nigéria e Emirados, os convertidos ao cristianismo são mortos.
Em Gaza, igrejas cristãs têm sido profanadas. A “civilizada” Arábia Saudita decretou a pena de morte para quem carregar uma Bíblia.
Nem adiantará não ser cristão. Quem não for muçulmano não será poupado. Se for muçulmano mas não comungar com a ortodoxia “da irmandade”, terá o mesmo fim. Mulheres que demonstram alguma inteligência ou independência e indivíduos homossexuais sofrerão martírios. Se for um judeu, será ainda pior.
A natureza difusa e assimétrica da barbárie muçulmana
Mas, afinal, de onde vem tamanha tolerância institucional a tamanha intolerância humana?
O caldo de cultura para a expansão dessa barbárie, está paradoxalmente a evolução do direito moderno.
Vivemos sob a égide dos interesses e direitos difusos. Direito de minorias, ecologismos de toda espécie, luta contra discriminação de raça, cor, religião e gênero, enquadram-se nesse cipoal de direitos e interesses (que formam novos direitos) – elementos que integram o esforço de tutela de conflitos das democracias ocidentais.
A questão é que esses conflitos difusos são assimétricos. Abrigam variadas formas e instrumentos de interação entre atores envolvidos.
As democracias ocidentais e asiáticas têm procurado desenvolver instrumentos legais de ajustamento de condutas disconformes com padrões de tolerabilidade e mecanismos de tutela coletiva de interesses minoritários, visando se antecipar a conflitos. Também têm procurado aperfeiçoar seus mecanismos de decisão, resolução de conflitos e controle social, tornando mais permeáveis e participativos os fluxos de tomada de decisão.
No entanto, essa busca, sob a capa do discurso “politicamente correto”, sistematicamente tem servido de guarda-chuva para manifestações de intolerância sexista, religiosa, étnica e doutrinária de vários tipos de radicais, entre eles os jihadistas.
Quanto mais avança o Estado Democrático de Direito, no sentido da inclusão de interesses difusos – mais é necessário definir novos instrumentos de repressão à facções radicais, forças paramilitares dissimuladas e organizações criminosas que recrutam jovens desequilibrados e psicopatas de toda ordem – que se alimentam da conflituosidade intrínseca dos interesses em causa.
Esse fenômeno integra os chamados conflitos, ou guerras de quarta geração – onde hoje se enquadra o jihadismo terrorista.
A evolução histórica dos conflitos
O termo “conflito de quarta geração” tem origem na doutrina militar israelense.
Em 1991, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Martin van Creveld, publicou um livro intitulado “A transformação da guerra”. Essa obra consolidou a chamada teoria da “4GW”, ou seja, “Guerra de Quarta Geração”.
Para Van Creveld, a guerra evoluiu até o ponto em que a teoria de Clausewitz se tornou obsoleta.
De fato, a primeira geração das guerras foi caracterizada pelo aperfeiçoamento do material bélico pelos impérios e a aparição das armas de fogo. Alcançou sua expressão máxima com as guerras napoleônicas – onde as formações de infantaria e a “ordem” no campo de batalha constituíram sua essência, com enfrentamentos táticos em linhas e colunas.
A segunda geração representa a consolidação da Revolução Industrial, o surgimento da larga escala da produção e, também, de interesses políticos, econômicos e territoriais.
As alianças neocoloniais disponibilizaram no campo de batalha, meios capazes de deslocar grandes massas de contingentes, tridimensionalizar o teatro de operações, no ar e no mar, e ampliar o poder de fogo em todas essas escalas.
O enfrentamento de grandes potências, definidas por interesses econômicos industriais e expansionistas, marcam esta geração. A Primeira Guerra Mundial é seu exemplo paradigmático.
A terceira geração envolve o aperfeiçoamento da inteligência estratégica e o uso da força militar para atender a interesses hegemônicos das ideologias totalitárias.
A guerra torna-se absolutamente móvel. Não há mais linhas estáticas definidas. O foco é a identificação de fragilidades e a neutralização da capacidade de reação do inimigo. A finalidade é anular a capacidade logística de operação, sem necessidade de aniquilar fisicamente o adversário.
A Guerra de Terceira Geração foi introduzida no campo de batalha pelas forças armadas da alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, protagonizada pela “guerra relâmpago” (Blitzkrieg). A base “força, massa e deslocamento” é alterada pelos fatores “concentração, velocidade e surpresa”.
Os alemães, no entanto, no decorrer do conflito, aprenderam que não eram os únicos a poder desenvolver essa estratégia.
As forças aliadas, capitaneadas pelos Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética, apreenderam e desenvolveram em escala global os fundamentos da guerra de terceira geração.
Compreenderam, na possibilidade de confronto entre elas próprias após a derrota do nazismo, a finalidade ideológica da guerra psicológica, da agitação e propaganda, o papel do proselitismo político na conquista, na resistência e na alteração dos cenários políticos, o uso científico da inteligência militar, da espionagem, táticas de infiltração na retaguarda do inimigo e a guerra de guerrilhas.
A “teoria do dominó” e as doutrinas político-militares de segurança interna e aliança regional foram programas utilizados sistematicamente na chamada grande estratégia da guerra fria, quando o mundo se dividiu em capitalistas e socialistas e o teatro de operações abrangeu o chamado terceiro mundo – subdesenvolvido – estimulando, por vias transversas, a retomada do expansionismo muçulmano por meio do terrorismo.
A guerra de quarta geração e sua assimetria
Com a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o término da Guerra Fria, o mundo bipolar se desfez. Esquerda e direita, comunismo e capitalismo, de uma forma ou outra, se fundiram ou diluíram – alterando o sentido da economia de mercado, a partir daí globalizada.
O mundo tornou-se progressivamente multipolar. Essa multipolaridade é caracterizada pelos mais variados vetores e demandas – econômicos, étnicos, ideológicos, criminosos, religiosos – até mesmo sexistas.
O advento do fundamentalismo radical islâmico, tornou o terrorismo um “negócio transnacional” – uma ameaça à paz e à segurança internacionais. A característica assimétrica dessa multipolaridade é a razão da barbárie fundamentalista.
Van Creveld previu que no futuro as bases militares seriam substituídas por esconderijos e depósitos, e o controle da população se efetuaria mediante uma mistura de propaganda e terror.
As forças regulares seriam transformadas em algo diferente, assinala van Creveld, que previu o desaparecimento dos principais sistemas de combate convencionais e a conversão das guerras em conflitos de baixa intensidade – chamadas Guerras Assimétricas.
Ele não errou de todo em sua previsão, pois a assimetria é característica dos conflitos que vivenciamos hoje. O terrorismo é um fenômeno criminológico e bélico – marcha pari passu com o crime organizado e de há muito sentou raízes na política.
Os narcoestados populistas, teocracias muçulmanas, grupos de guerrilha que dominam rotas do tráfico de drogas, de armas e escravos – plenos de proselitismo socialista, bem como seus aliados “politicamente corretos” – e outras chusmas de hipócritas alimentados por um discurso de ataque sistemático a valores “ocidentais”, são um exemplo de articulação assimétrica, bastante difusa, porém com potencial tóxico impressionante na democracias…
Minorias transformam-se em “escudos humanos” para campanhas de desconstrução da ordem legal. Direitos humanos são propositadamente diluídos em uma explosiva mistura liberticida, visando consolidar interesses facciosos.
O conflito assimétrico abriga variadas formas e instrumentos de constrição e coação, aplicados por organizações não estatais de diferentes matizes – da criminalidade comum à barbárie religiosa.
Nessa teia de más intenções para com todos os valores morais conquistados pela civilização moderna, fermenta o terrorismo, a barbárie, a covardia e a negação de humanidade do radicalismo islâmico.
O que fazer?
Primeiro, é preciso assumir as responsabilidades pelas pontas soltas no conflito assimétrico instalado com a barbárie.
Há, sim, culpa ocidental com relação à origem do fenômeno – claramente estimulado por uma política norte-americana e européia, de interesses internacionais voltados à imposição de uma política petrolífera imperialista e, sobretudo, por um combate ao terror baseado na iconoclastia das ditaduras políticas – ignorando as estruturas totalitárias religiosas que aquelas, de certa forma, conseguiam controlar.
Assim, a intervenção da OTAN, no oriente médio, resultou na derrubada artificial de ditaduras sanguinárias, porém laicas – como as de Kadafi, na Líbia e Saddan, no Iraque – permitindo o embate direto de facções religiosas sunitas e xiitas, e com isso o agravamento da postura anti-civilizatória “ocidental” na região.
A miséria, a violência sistemática promovida pelo ódio religioso, e, sobretudo a ignorância absoluta, produziram hordas de primitivos rancorosos e recalcitrantes – uma massa de desmiolados prontos a darem fim à própria vida em troco de algo prometido pelo profeta, face ao nada que em vida possuem.
O envolvimento insano das potências mundiais na batalha desgastante para derrubar Bashar Assad na Síria, armando jihadistas de todos os matizes e, misturando-os a mercenários, psicopatas e marginais de toda espécie, permitem, hoje, que bandos de loucos sejam arregimentados para tomar campos de petróleo e assumir rotas de tráfico de heroína e haxixe – criando uma “razão econômica” para a manutenção territorial do terror ás custas da instrumentalização da barbárie.
O wahhabismo e as madrassas sunitas constituem, ademais, forte reforço à estrutura política absolutista dos Emirados Árabes e Arábia Saudita – potências econômicas petrolíferas, aliadas ocidentais e, portanto, absolutamente ignoradas no xadrez do combate ao terrorismo jihadista promovido por Al Qaeda, Estado Islâmico, Talebã, Boko Haram e Hezbolah, da África ocidental à Ásia – todos supostamente financiados pelos Sheiks e Príncipes, conforme relatórios extensos da inteligência israelense, jordaniana, russa, inglesa, francesa e americana…
Se não houver uma aliança nos moldes da ocorrida na segunda guerra mundial – focando o alvo a ser combatido e secando as fontes econômicas do seu sustento, estaremos todos enxugando gêlo.
Também, a exemplo da segunda grande guerra – se não houver um grande “Plano Marshall” para financiar o desenvolvimento econômico e a reconstrução em bases civilizadas da região confragrada – levando cultura, educação, comércio, saneamento ambiental e urbanização laica – os milhões de infelizes que ali permanecem na miséria, continuarão reféns da ignorância, das madrassas wahhabistas, do discurso sexista, do analfabetismo funcional e dos ditadores religiosos que defendem as monarquias absolutistas montadas em barris de petróleo, até agora intocadas..
No âmbito do ocidente, o momento também é de mudança radical de atitudes.
É hora de coragem, de denunciar nas democracias,a postura imbecil dita “politicamente correta”, que impede o exercício da crítica à doutrina hipócrita das ortodoxias religiosas.
Se quisermos combater a barbárie, teremos que ir fundo na investigação do olhar islamita sobre a democracia e a liberdade de expressão no mundo ocidental.
A história mostra que os regimes democráticos sempre agiram de forma pendular para superar crises – ou seja, às vezes é sim necessário restringir liberdades religiosas e até a plena liberdade religiosa, se a atividade em foco transcende os limites da Ordem Pública e do Estado Democrático de Direito para ferir direitos humanos.
A “operação mãos limpas” (e, depois, a repressão aos excessos de juízes e procuradores), na Itália; a “Guerra às Drogas” nos EUA (e a complexa e progressiva correção de rumos nos anos 80 e 90); a própria guerra norte-americana ao terror – mostram essa ação pendular, justificada pelas circunstâncias.
Assim, se quisermos combater as raízes de toda essa barbárie, devemos assumir que:
É preciso por um fim aos Estados teocráticos!
É, sim, necessário afirmar o laicismo dos estados democráticos!
É preciso forçar os contrários à convivência em um ambiente pluralista!
É necessário reprimir usos e costumes que estejam em desacordo com a liberdade de expressão e os direitos humanos, principalmente aqueles que reduzem, degradam e diminuem a figura feminina.
É preciso abolir o uso de burcas e outras vestimentas em locais públicos, jurisdicionados pela constituição laica e democrática – seja no ocidente, seja no oriente, porque não se trata de “costume religioso” e, sim, instrumento de submissão sexista.
É preciso abandonar o comportamento pusilânime, baseado na conduta “politicamente correta”, cuja estultice permitiu a criação de “quarteirões muçulmanos” na Inglaterra, França e Alemanha – instituindo um “apartheid” com outras cores – caldo de cultura que excretou imbecis de toda ordem, ainda adolescentes, em direção à militância no radicalismo islâmico.
Nosso Brasil, que sempre praticou o pluralismo, com todos os defeitos e qualidades, resolveu adotar a hipocrisia politicamente correta como discurso político. Por conta disso, nossa sociedade está perdendo sua natureza cordial e hospitaleira.
Agora, o governo brasileiro, em todas as esferas federativas, se submete aos preceitos ideocráticos de gente que faz do ódio, instrumento de militância.
Os sangue que testemunhamos deveria bastar, para que abandonássemos em definitivo o discurso da pusilanimidade “politicamente correta”. Deveríamos adotar o discurso afirmativo do respeito à democracia e ao pluralismo (que não se confunde com tolerar o intolerante).
A história é sábia.
Consta no texto da acusação contra os líderes nazistas, no Tribunal Militar Internacional de Nuremberg:
“Estes homens, quando eram poderosos, não se baseavam em nenhum processo jurídico, e o seu programa ignorava e desafiava todas as leis humanas. Direito internacional, direito natural, direito pátrio, qualquer que fosse o direito, era, para eles, apenas um meio de propaganda sempre ignorado quando se opunha aos seus desígnios”.
Sabemos o preço que já pagamos por tolerar intolerantes em nossa democracia ocidental.
Os muçulmanos são, sem dúvida, as maiores vítimas da barbárie muçulmana.
O islã é, também, vítima da omissão crítica em relação à barbárie e da perda da memória histórica, protagonizadas pelo revisionismo “politicamente correto”.
Os muçulmanos serão, com certeza, também os maiores beneficiários da separação entre Alcorão e Constituição.
Antonio Fernando Pinheiro Pedro é advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Integrante do Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB e da Comissão Nacional de Direito Ambiental do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB. Jornalista, é Editor- Chefe do Portal Ambiente Legal e responsável pelo blog The Eagle View.